terça-feira, 4 de maio de 2010

Aos doze

Acocorado, apoiou-se na murada baixa. Esperava o silêncio da rua de um domingo qualquer aos doze anos. Pronto para saltar, apertou-se ainda uma vez e sentiu que podia. Pulou para o outro lado, e num zás abaixou-se, como se fugisse de uma linha imaginária de tiros. Dali só viu o mato crescido e a cor cinza ao seu redor. Sob o céu metropolitano, descia uma noite precoce, um prenúncio de tormenta no meio da tarde. Avançou pelo terreno baldio. Galhos se quebraram aos nervosismo de seus pés. Havia vegetação macia, era deitar e deitar. Ao fundo, bem ao fundo, ouviu uma voz bêbada, e era uma voz amassada de quem não tem teto. Sorriu nervoso, disfarçando a tentação de desistir do que fora fazer ali. Mas agora já era tarde. Nuvens e escuridão, a mãe esperando explicações. Tinha que ser naquele dia. Um impulso de medo a lhe coibir; mas reagiu, arregaçou a calça e olhou sem pudor para o centro de tudo, pela primeira vez, daquele modo, a céu aberto: a engrenagem em funcionamento logo recebeu os primeiros pingos que começavam a se alastrar. Os outros meninos haviam dito: muita pressa nesta hora. Abriu os instintos: o jorro juvenil. E deixou-se ficar encostado no muro, depois sentado, a tarde morrendo, suas roupas encharcadas (era preciso aquela chuva), então ficou um tempo ali, convalescendo, agarrado a mais uma tentativa, e mais uma vez levantou-se e correu para casa.