Divino mato
A circunstância: o pequeno quarto-e-sala (o apartamento fica no centro da confusão da cidade). A única consciência? Alguns olhares, os movimentos lentos e o cuidado com as janelas fechadas. São duas horas da manhã e estão os três ali no meio da "sala do sentados". Acomodam-se como podem em velhos colchões improvisados, em trapos amontoados ao acaso e o outro no canto diagonal dessa sala sem planejamento (como se ninguém vivesse ali), sem vida (como se alguém pudesse viver ali...). Nesse mundo fechado a poucas portas e cheio de meias palavras ditas, mas nem sempre concluídas, são três excentricidades em pleno delírio. A noite é deles.
E inicia.
Estão sentados, estáticos e em desalinho. Estão casuais; poucos são os olhares, e se eles se olham é logo para se riem um do outro numa convulsão tal, numa falta de iniciativa e de tudo. Sim, são parcos e lassos os seus movimentos dessas entidades cósmicas ali travestidas de rebeldia: na sala enfumaçada, tudo se resume a alcançar uma única coisa para o outro – e não é afeto. O passe livre de cada dia que rola de mão em mão, todos os dias, à mesma hora e nessa peça selecionada a dedo por algum fornecedor – eis o único exercício físico desses desvalidos: o tocar de dedos no ar.
E há muita liberdade no ar – disso ninguém duvida – e o espaço que se abre em suas mentes são como campos floridos a viajar pelo monocromático de um trem que mergulha ocasionalmente nas ondas irregulares da última baforada. Alguém pigarreia.
Depois, depois: qualquer assunto é qualquer assunto.
São três da manhã, um repete.
É ontem ou é hoje, um outro pergunta.
Tudo vale (nada pesa) nessa jornada noite adentro que não tem fim, aqui reunidos, nessa sala encravada em algum prédio da cidade que não dorme. Sabem que não precisam de mais nada (nem dormir), e sabem também que nada os tirará dali nas próximas horas, nos próximos dias, talvez numa próxima vida. Contudo, indiferente a esses devaneios, as horas correm, ao mesmo tempo em que as perguntas (vagas) diminuem de intensidade... Tudo é quase sono, nuvem, colina, auge. Alguém se pergunta – agora ninguém responde – não saberemos a pergunta, nem o devaneio. A essa altura já entenderam que não há mais nada para entender.
Apenas buscam a última sensação da noite. E tragam. E voam.
Eles, os adoradores do divino mato.
E inicia.
Estão sentados, estáticos e em desalinho. Estão casuais; poucos são os olhares, e se eles se olham é logo para se riem um do outro numa convulsão tal, numa falta de iniciativa e de tudo. Sim, são parcos e lassos os seus movimentos dessas entidades cósmicas ali travestidas de rebeldia: na sala enfumaçada, tudo se resume a alcançar uma única coisa para o outro – e não é afeto. O passe livre de cada dia que rola de mão em mão, todos os dias, à mesma hora e nessa peça selecionada a dedo por algum fornecedor – eis o único exercício físico desses desvalidos: o tocar de dedos no ar.
E há muita liberdade no ar – disso ninguém duvida – e o espaço que se abre em suas mentes são como campos floridos a viajar pelo monocromático de um trem que mergulha ocasionalmente nas ondas irregulares da última baforada. Alguém pigarreia.
Depois, depois: qualquer assunto é qualquer assunto.
São três da manhã, um repete.
É ontem ou é hoje, um outro pergunta.
Tudo vale (nada pesa) nessa jornada noite adentro que não tem fim, aqui reunidos, nessa sala encravada em algum prédio da cidade que não dorme. Sabem que não precisam de mais nada (nem dormir), e sabem também que nada os tirará dali nas próximas horas, nos próximos dias, talvez numa próxima vida. Contudo, indiferente a esses devaneios, as horas correm, ao mesmo tempo em que as perguntas (vagas) diminuem de intensidade... Tudo é quase sono, nuvem, colina, auge. Alguém se pergunta – agora ninguém responde – não saberemos a pergunta, nem o devaneio. A essa altura já entenderam que não há mais nada para entender.
Apenas buscam a última sensação da noite. E tragam. E voam.
Eles, os adoradores do divino mato.