Converse com as plantas
E tenha um dia feliz. Dizia o anúncio. Queria ler, queria ter mais paciência para esses pequenos atos da vida cotidiana, mas eu era um sujeito sem tempo para embelezamentos e alguém resolveu outro dia dizer (visitando o recinto ascético que habito) que eu tinha de ter uma planta em casa, este apartamento é muito frio. Por isso apanhei o vegetal na loja dos vegetais, verifiquei o preço, abracei o pacote, a carteira eu abri, paguei sem sorrisos, feliz por dentro com a antipatia bélica da pessoa do balcão... Sim, agora eu tinha uma planta em casa, era o que importava. Estava saindo quando alguém tocou no meu braço:
– Converse com a planta.
Lembrei do anúncio (estava lá na entrada da floricultura), alguém sorrindo e acariciando uma planta e dizendo:
– E tenha um dia feliz.
Difícil acreditar na acusação de falta de vida do meu apartamento, logo ela, a garota que estava mais atrás de diversão barata do que planos eternos; mas eu a ouvi, fui até a loja e comprei uma sempre viva (pra que nome melhor?), ouvi acreditando que ela era eterna, mas alguém disse as flores de plástico não morrem e agora eu era uma homem barbado com uma planta no colo. E o sujeito, repetitivo:
– Não esqueça de conversar com a planta.
A minha pressa. Certa indiferença. Falta de tempo. Impaciência. Toneladas de grosseria e incompreensão (...mas nem conversar com as plantas você consegue conversar, ela bateu a porta e saiu). Na minha pressa, na falta de tato, não ouvi direito o choramingo do sujeito parado ao lado da porta, lembrei, antes, os crescentes meses de seu afastamento até o dia em que ela tchau, cansei estou indo embora...
E foi.
A planta no meu colo.
O sujeito repetindo.
Eu silêncio.
Definitivamente, agora eu sei: preciso conversar com as plantas para descobrir onde errei.
– Converse com a planta.
Lembrei do anúncio (estava lá na entrada da floricultura), alguém sorrindo e acariciando uma planta e dizendo:
– E tenha um dia feliz.
Difícil acreditar na acusação de falta de vida do meu apartamento, logo ela, a garota que estava mais atrás de diversão barata do que planos eternos; mas eu a ouvi, fui até a loja e comprei uma sempre viva (pra que nome melhor?), ouvi acreditando que ela era eterna, mas alguém disse as flores de plástico não morrem e agora eu era uma homem barbado com uma planta no colo. E o sujeito, repetitivo:
– Não esqueça de conversar com a planta.
A minha pressa. Certa indiferença. Falta de tempo. Impaciência. Toneladas de grosseria e incompreensão (...mas nem conversar com as plantas você consegue conversar, ela bateu a porta e saiu). Na minha pressa, na falta de tato, não ouvi direito o choramingo do sujeito parado ao lado da porta, lembrei, antes, os crescentes meses de seu afastamento até o dia em que ela tchau, cansei estou indo embora...
E foi.
A planta no meu colo.
O sujeito repetindo.
Eu silêncio.
Definitivamente, agora eu sei: preciso conversar com as plantas para descobrir onde errei.