Benedito, negro
Benedito João dos
Santos Silva Beleléu vulgo Negro Dito, cantava o poeta.
Era tarde, e à sua
frente um surd´ouvinte a remexer um palito, já usado, na boca.
Era noite forte, escura
de não se enxergar, e estava ele num dos corredores da cidade, feito
isca de polícia, ali, parado. Ao seu lado o periculum in mora.
Esperavam.
Um, Benedito: chapéu
quebrado para o lado, fumos enrolando nacos de fumaça no ar, e o ar
típico das quebrantas do mundaréu... Aquela espera tinha o ar
definitivo de certas insanidades transitórias.
Benedito a cantarolar:
– E se chamar a
polícia a boca espuma de ódio.
O outro: desconhecido
até ali que a noite ajuntou, este apenas ouvia, mas definitivo
desinteresse infantil de quem assevera só por contrariar:
– E o quico eu tenho
com isso, meu?
Até amanhã, disse
este outro que a essas alturas puta que partiu e partiu.
Aquele vai mas não
volta, disse o que ficou – Benedito – e ficou imóvel porque no
mesmo instante a viatura do preconceito cantava pneus, fechava o beco
rasgando as paredes laterais com as luzes projetadas nos desatinos da
sirene insistente. Num arroubo de farta agilidade, os cops já
ia levando o Negro Dito de volta para beleléu.
Sim, o ano era 1943,
eram dois velhos malandros, e este diálogo nunca aconteceu.