A placa
CRÔNICA
Há anos sonhava com a placa, e vejo agora que finalmente a colocaram
ali, na calçada, diante da porta da minha casa:
T R I S T E Z A
Constato isso, ainda na rua.
É quando ao meu lado encosta um sujeito de sotaque e aparência
distante, quem sabe veio de longe, de outras terras, agora a me
acionar :
– Alguém consegue viver feliz num lugar com esse nome?
Estranho este ser sujeito existência incompleto de tamanha absurda
pergunta de cuja boca sai tal tamanho impróprio vilipêndio
comentário.
Olho em mim, e ao meu redor rondando o ódio: certeza.
Ahã.
Sei.
Sei que é certo também que estou entristecido porque os meus
amores todos – aquela placa – é agora alvo da zombaria de um
não-sei-quem-meio-forasteiro, me disse morador de Solidão das
Almas, pode uma alma viver morar em colidente solidão?