Conferência
Estava o casal na sala de estar de sua residência no Boulevard Saint
Germain discutindo o diagnóstico de cancro terminal do marido quando o
telefone tocou. Era do colégio da filha. Comunicavam que a filha
havia desaparecido. O pai baixa o aparelho no gancho e pergunta se
deveriam ir até lá.
No colégio, estão na sala da diretora. Ela oferece café e
croissant, fala sobre a linha de pobreza em Uganda “e na África”
e acrescenta informações a respeito da campanha da Escola para o
“Fundo das Ilusões Perdidas”; os pais nada comentam, nem
acrescentam qualquer coisa a não ser a pergunta:
– A senhora nos chamou por que motivo mesmo?
Num impulso rápido a diretora levanta-se e pede para que a
acompanhem.
Agora estão na sala de aula da filha; a professora está ao lado, mas é a diretora quem toma a iniciativa de começar a fazer a chamada.
Quando chegam no nome da filha, uma garota nos seus doze anos levanta
a mão; ninguém vê nada nem se mexe do lugar. A diretoria encerra a conferência,
dirige um olhar de reprovação à professora, pergunta sobre o cuidado com a caixa de giz e em seguida sugere que
os pais procurem a delegacia de polícia mais próxima. Apesar de trabalhar há
vinte e cinco anos na Escola, ela não sabe onde fica a delegacia
mais próxima.
Na delegacia, é o chefe de polícia quem recebe o distinto casal.
Que pergunta se é conveniente a mocinha de vestido azul ficar junto;
nenhum dos pais se manifesta. O delegado da chefatura logo pede a
descrição da menina desaparecida, acrescentando, a seguir, se a
menina aí ao lado poderia se aproximar de sua mesa. Passa então tomar as
medidas da garota. Por fim, chama seu auxiliar e lhe alcança as
informações sobre o perfil da desaparecida, cujo conteúdo havia
anotado antes. O auxiliar do chefe de polícia pede licença para
chamar o tenente, mas é o sargento de plantão que atende a seu
pedido. Nunca sabe qual a diferença entre os dois, dados os cento e
poucos quilos de cada um deles.
Os pais perguntam se aquele é o guarda que vai procurar a filha
deles, o sargento Remi não gosta, é sempre ele que tem que voejar
por aí atrás dos desaparecidos.
Antes de sair, o cabo de prontidão pergunta se pode levar a
garotinha para ajudar a procurar a filha desaparecida. Ninguém
presta atenção ao que o soldado raso diz. O chefe de polícia fala
das maravilhas de sua nova lancha na Riviera; os pais, do preço alto da
mensalidade da escola. Todos mexem a cabeça, concordando.
A filha é encontrada pelo Cabo Donizete, dois dias depois.
A filha é encontrada pelo Cabo Donizete, dois dias depois.
Agosto
de 2018.
LEVEMENTE INSPIRADO EM SEQUÊNCIA DO "FANTASMA DA LIBERDADE"
LEVEMENTE INSPIRADO EM SEQUÊNCIA DO "FANTASMA DA LIBERDADE"