Montevidéu
[23:40, 28/02/2022] Edgar Aristimunho: DIÁRIOS OCASIONAIS. Lendo “A uruguaia”, do escritor argentino Pedro Mairal. O personagem é um escritor argentino quarentão meio em crise, que se apaixona por uma garota uruguaia. O ritmo de sua vida balança entre o trágico e o cômico -- e então ele decide viajar atrás dela na capital do Uruguay. Creio não haver redenção para ele ao final. A boa literatura argentina que o diga -- eis a escrita de Mairal. Faltam-me vinte páginas para concluir a leitura do livro. À tarde, troquei as páginas finais e optei sentar-me em frente dela para passar creme hidratante nos pés de minha amada. Tal como Lucas Pereyra, o protagonista do grotesco, escolhi o lugar impróprio e a hora errada. No meio da tarde e na área aberta da casa de meus pais -- e isto em dia de visita. Enquanto conversávamos, eu viajava naqueles pés, nas colinas da área central e pelas alamedas da memória: minha Montevidéu era cheia de curvas e lembranças amorosas. Lá vivemos a viagem de um grande amor no início do namoro. Fico imaginando o que o meu pai, Senhor José Edgar, deveria estar pensando naquela hora, ele, um homem que viveu a vida dura das estradas e teve poucos aconchegos longe de casa. A cena bem serviria para o enredo de um curta-metragem sobre a vida e a passagem do tempo, mesmo que seja sob o olhar metálico de um pai desconfiado.