Apaixonado pelo título
CRÔNICAS PARA MEU FILHO
Estamos na sala de nossa casa assistindo à entrevista que gravei com o escritor Assis Brasil. Na tela, o bate-papo gira em torno das escolhas feitas ao longo da elaboração do meu primeiro livro de contos, O Homem Perplexo. A certa altura da conversa falo sobre o dilema de todo escritor, que em certos momentos precisa cortar seus textos como quem corta a própria mão. Ao escrevermos, este é, sem dúvida, o trabalho mais difícil e cruel. Comento sobre os títulos. Muitas vezes eles também precisam ser curtos e diretos, econômicos e impressionantes, à maneira do próprio conto, narrativa de impacto por excelência. Nesse momento da entrevista, comento o caso de um dos títulos longos que eu tinha dado a um conto e que, cortado, ficou mais belo, exato e expressivo. Digo que gostei tanto do corte sugerido pelo revisor que me apaixonei pelo título. Meu filho pula do sofá, leva as mãos à cabeça e grita para a mãe dele:
─ Mamãe, o papai está apaixonado por um título. Ele não te namora mais.
Todos riem; em seguida, eu quieto, mastigo o pequeno teatro. Fico pensando nas palavras que havia lançado no ar, o duplo sentido do verbo, a metáfora do amor abandonado (os restos de textos que jamais publicaremos), o sentido deslocado da frase, o literalidade presente em minhas palavras, mas fico pensando demais. Quase deixo o momento escapar.
Até que enfim sossego, recolho meus delírios extremos e guardo-os em alguma caixa de recuerdos. Concluo, enfim, que o melhor é observar a beleza dos diálogos e espontaneidade do sorriso de uma criança de sete anos.
─ Mamãe, o papai está apaixonado por um título. Ele não te namora mais.
Todos riem; em seguida, eu quieto, mastigo o pequeno teatro. Fico pensando nas palavras que havia lançado no ar, o duplo sentido do verbo, a metáfora do amor abandonado (os restos de textos que jamais publicaremos), o sentido deslocado da frase, o literalidade presente em minhas palavras, mas fico pensando demais. Quase deixo o momento escapar.
Até que enfim sossego, recolho meus delírios extremos e guardo-os em alguma caixa de recuerdos. Concluo, enfim, que o melhor é observar a beleza dos diálogos e espontaneidade do sorriso de uma criança de sete anos.