Something in the past
Nunca foi lugar para mim, devo confessar, eu, o Paulo Afonso dos jogos
muito bem definidos (já recebi muita porrada na vida). Mesmo assim,
assim como são os homens que se dedicam a desafiar a vida:
Acelera tanto assim não benzinho que é isso o que está querendo
por que não gostou qual é quer encarar, sempre as pergunta ações
um irresponsável cento e trinta cento e quarenta daqui a pouco cento
e oitenta olha a curva caminhão estrada chuvosa, quase sempre me
colocando no limite será que o chefe leu o relatório vão aprovar o
meu aumento ninguém desconfia faltou só uma cópia não será que
ela me viu abraçado à outra e se tudo ficar na base dos quinze por
cento, de certa forma eu também já estava cansado de arriscar fio
da navalha camisinha muita pimenta parceiras rodas sempre álcool
cartão de crédito preto calça justa e algum veneno
antimonotomia.
Era este mesmo um tempo de revelações pra mim. Sun tzu. Astrologia.
Yoga e meditação. Tai-chi-chuan. A arte de manutenção de
motocicletas. Viagens às montanhas do Peru. Comida japonesa.
Botina de escalada e muita caminhada. Outro tanto de cuidado com as
plantas que já morriam secas na sacada de meu apartamento de homem
solteiro. E agora aquele curso de literatura argentina com Pola
Oloixarac. O convite, vindo da minha colega de artes marciais. Abrir
a mente. Antes, ela me abria muitas coisas eu vou viver eu vou
amar demais a me lembrarem a todo momento a minha história:
A mãe decote outra tia a filha da vizinha minha professora de
Matemática do quinto ano a primeira namorada o idiota do Pedrinho
fazendo competição de escarrada de porra à distancia enquanto
vinha pra cima de mim com aquela mão boba os jogos masculinos chute
revidada porrada alguém separa o desprezo da guria da parada seis
todos os dias na frente do colégio atrás de Luciana e dos
quartinhos de banho escuro fechaduras janelas de banheiro e a fresta
a me revelar a namoradinha da irmã do amigo e o olhar dos quatro
irmãos repressão nunca poder jogar sinuca na mesa dos adultos o
primeiro dinheiro roubado passeios de metrô caminhadas no zoológico
encontra amigo com amiga e ao lado aparece a pessoa com deficiência
deitado com ela no gramado quase estrupo nunca ninguém viu nunca
mais aquela zona incidência cartão de visita marcando bobeira eu
não sei o que o meu corpo abriga nessas noites quentes de verão
oi tudo bem o que vai ser as compras sempre orientadas pelos amigos
mais velhos aquela qual a loira baixinha muitos anos depois o
compadre mostra fotos nuncas reveladas na pasta secreta do arquivo
secreto no local mais secreto da casa casado segredos secretas
mulheres casamento outras mulheres representações sociais trabalho
igreja conselho o cidadão respeitável acima de qualquer suspeita
caso emprego empresa empregados greve gravidades mas o carro sempre
lavado na garagem pronto para a rodar a cidade passeio noturno põe a
chave acelera nunca mais ela posando
de star nunca mais o teu branco de doer nunca mais
literatura argentina nunca mais
É quando saio da sala e até me esqueço da cena: bater a porta em
cheio, macho hetero, o que é isso companheiro, está me
estranhando, enquanto lá dentro ela provavelmente deve
estar agora se perguntando o que deu nele, no Paulo Afonso.
Agosto
de 2017
dedicated to D.A.
dedicated to D.A.