terça-feira, 29 de maio de 2018

Um passado militar asfaltado


DEPOIMENTO

Sou filho de caminhoneiro. Nunca tive muito orgulho da categoria – as matrizes reacionário-totalitáritas-machistas-armamentistas-sebastianistas (que pedem a volta do Rei D. Sebastião) são tão comum entre caminhoneiros como em qualquer bacharel diplomado de classe média branco cidadão do bem e de boa família que jogou as aulas de História recente do Brasil no ralo – a água junto com o bebê. Mas é bom ficar claro que nossa opção e dependência sobre rodas começou nos anos 1950 (indústria/montadoras automobilística), em governos proclamados social-democrata (JK) e se concluiu com as estradas (as BRs) da Ditadura Civil-Militar nos anos 1970. De lá também cresceram as eternas aposentadorias para filhas de militares, favores para os amigos, a grande farra dos bancos, juros altos, dívida externa, a exponencial das construtoras, os monopólios como o cimento, a televisão, a Rede Globo, o delírio chamado Transamazônica, crescimento do agronegócio, da tortura, as greves, a luta pela terra, o fim das ferrovias (a RFFSA viveu de 1957 a 1998), o grande crescimento das megatransportadoras (a Coral era um império na América Latina quando aos 10 anos eu viajava com o pai) o escândalo chamado Angra I, II, III, a indústria de armas, a inflação, a concentração de renda, a fome, a pobreza, a indústria da seca, o escândalo da mandioca, o crime organizado, o nascimento do PCC, a corrupção no futebol, CBD/CDF e se quisermos novamente lembrar os anos 1950 – aquela grande caixa preta ainda por ser aberta: o BNDES. Tudo isso fez de nosso país um achado de oligopólios, monopólios, lavagem de dinheiro, grupos mafiosos, justiceiros (recomendo o filme República dos Assassinos, sobre o Esquadrão da Morte) e entre todos esses privilegiados pelos governos militares estão os donos de transportadoras, como esse Dalçoquio aí que abomina professores e defende a volta da ditadura. Este não é um caminhoneiro e fez de você um refém de nosso passado militar asfaltado.

Maio de 2018.